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Projeto de Ohtake em Goiânia une “liberdade plástica, rigor construtivo e flexibilidade funcional”

Foto: Lucas Jordano

Ruy Ohtake foi um dos grandes ícones de sua geração. Ao todo, o arquiteto falecido no último dia 27 projetou mais de 300 obras, construídas no Brasil e no exterior – desde prédios de serviços públicos, escolas, residências e apartamentos até teatros e salas de cinema.

Entre suas obras, em Goiás se destaca o prédio do Banco Santander, localizado no Centro de Goiânia. De estilo modernista, a agência do banco foi projetada em 1977 e construída em 1979, em uma área de 2.450 m² localizada na rua 3, na esquina com a rua 9. 

Lana Jubé, ex-conselheira federal do CAU/BR e professora da PUC Goiás, relembra a visita do arquiteto a Goiânia, quando foi paraninfo de uma turma de alunos há 15 anos. Ruy Ohtake sempre comparecia aos eventos em que era homenageado. Após a participação de Ohtake junto aos estudantes, Lana e outros professores tiveram a oportunidade de trocar experiências com o arquiteto paulista, que, segundo ela, ficou admirado pela arquitetura da casa do professor Antônio Lúcio Ferrari.

Para a arquiteta goiana, as curvas, características do trabalho de Ohtake, o destacam. “Sempre chamou muita atenção o movimento que ele dá à estrutura típica dos modernistas e sua generosidade com o espaço público”, afirma. “O pavimento térreo do prédio da rua 3 tem um recuo maior (do que o exigido) como forma de gentileza urbana.”

Para o arquiteto e urbanista Lucas Jordano, professor da FAV/UFG, o edifício do Banespa/Santander testemunha um período da trajetória de Ohtake em que ele equilibrava “liberdade plástica, rigor construtivo e flexibilidade funcional”. Essa obra se integrava, segundo o acadêmico, a um conjunto de experiências que se alastraram pelo país na década de 70 – “de aspecto austero, com poucos elementos construtivos e recorrente uso do concreto armado aparente”. “Apesar desse vínculo de época”, diz, “Ohtake fazia a expressão dura e intransigente do concreto armado dobrar-se às curvas que sempre lhe foram caras”.

“Em uma segunda fase, a partir do final da década de 80, Ruy Ohtake absorveu em seu repertório formas mais extravagantes e cores mais intensas”, afirma Lucas. “É possível que as novas gerações só tenham intimidade com essas últimas expressões da produção do arquiteto. Nesse sentido, sua única obra em solo goiano não nos deixará mentir quando a ele agora rendermos justa homenagem”.

Tocantins
O arquiteto e urbanista Luiz Fernando Cruvinel Teixeira (Xibiu) teve seu primeiro contato com Ohtake em Palmas (TO), onde o paulista projetou dez quadras do município planejado por Xibiu. Depois disso, criaram uma relação de amizade e chegaram a disputar um concurso internacional de turismo, onde suas equipes ficaram entre as primeiras colocações.

O goiano conta também que, em conversa com Ohtake, o arquiteto paulista revelou a inspiração para o edifício do Banco Santander, em Goiânia: as curvas de um piano de cauda. ”O embasamento térreo solta o edifício, criando cheios e vazios pelas sombras, muito bem implantado e protegido da radiação solar”, afirma Xibiu. ”Os recuos lateral e frontal proporcionam um passeio pelas curvas sinuosas que percorrem o terreno, dando uma identidade visual extraordinária.”

Para Xibiu, Ruy era uma pessoa muito agradável e humana. “Um artista”, diz. “Ele trabalhava muito porque amava. Os alunos gostavam demais dele, era uma pessoa que todos gostariam de ser, um cara de humanismo extraordinário.”

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