A cidade de São Paulo completa hoje 459 anos. É o principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul. São Paulo é hoje a cidade mais populosa do Brasil, do continente americano e de todo o hemisfério sul e sendo considerada a 14ª cidade mais globalizada do planeta. Especialistas procurados pelo jornal Folha de São Paulo apontam os principais obstáculos que afetam a maior metrópole brasileira:
HABITAÇÃO
São Paulo tem 35% da população vivendo na precariedade, em favelas, loteamentos irregulares e cortiços, ou mesmo na rua. A política habitacional deve apresentar soluções criativas.
Mas faltam terras disponíveis, sobretudo na cidade “que funciona”. Sem acesso a ela, pobres são condenados ao exílio nas periferias. Por causa da escassez de área para construir, a urbanização de favelas e loteamentos tem de ser prioritária.
Prédios e cortiços abandonados têm de ser reocupados. Isso significa enfrentar interesses poderosos. Superar os obstáculos para garantir a diversidade social demanda ações incisivas, que trariam desgaste político, mas mudariam a cara da cidade.
JOÃO SETTE WHITAKER, 46, arquiteto, docente da USP e do Mackenzie e coordenador do laboratório de Habitação da FAU-USP
ENCHENTES
A ocupação desordenada de áreas alagáveis, principalmente a partir dos anos 1970, é a vilã das enchentes, mais que a impermeabilização do solo.
Mas as consequências desse avanço sobre as margens –que escondeu córregos e rios em galerias– estão sendo combatidas de forma correta. Os projetos de drenagem em andamento preveem, por exemplo, a construção de piscinões e parques lineares.
Não faltam tecnologias para resolver o problema, mas elas demandam uma soma de recursos elevada. Se tudo for feito como está previsto, os riscos de enchentes serão reduzidos a níveis aceitáveis em 15 a 20 anos.
ALUÍSIO CANHOLI, 60, doutor em engenharia hidráulica pela USP
CULTURA
Em minha opinião, o problemas mais grave e estratégico é o desequilíbrio de aparelhos e ofertas culturais entre as regiões da cidade.
Há poucas áreas com alta concentração de teatros, cinemas, museus, galerias e centros culturais e muitas e vastas regiões com ausência de oferta cultural.
Pontual e minimamente, os CEUs e o Sesc amenizam esse quadro, mas ainda são gotas d’água no deserto.
YACOFF SARKOVAS, 58, CEO da empresa de consultoria Edelman Significa
EDUCAÇÃO
Um dos principais problemas do setor é a falta da implementação do já existente Plano Municipal de Educação. Ele é uma importante ferramenta para revigorar a qualidade de ensino na capital paulista.
O plano prevê, por exemplo, que o governo municipal possa usar acréscimo aos recursos próprios advindos de parcerias com as administrações estadual e federal.
Os objetivos desse trabalho devem ser: estender o número de horas discentes e docentes na escola, promover formação permanente dos profissionais e estimular a participação da comunidade escolar.
MARIO SERGIO CORTELLA, 58, doutor em educação pela PUC-SP e secretário municipal de educação entre 1991-1992
FINANÇAS
O grande drama de São Paulo é o endividamento. A relação dívida/receita do município é uma das maiores do Brasil, já beirando os 13% do orçamento.
Isso deixa a prefeitura estrangulada financeiramente, sem sobra para manobras. Ela acaba tendo que viver em boa medida pelo que arrecada, e recorrendo a recursos como incentivos fiscais. A dívida alta, com juros muito elevados, é resultado dos desmandos do passado.
Em primeiro lugar, é preciso renegociar urgentemente as taxas de juros com a União, que é o maior credor. E, para isso, é necessário alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é algo que a União se dispôs a encaminhar. Como é a maior –e a mais importante– cidade do Brasil, São Paulo não pode quebrar.
RAUL VELLOSO, 67, consultor econômico e especialista em contas públicas