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Presidente do Comitê Executivo da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, João Neves Toledo, fala sobre o Jardim Botânico de Goiânia

Dentro da programação do Seminário Ordenamento Legal e Gestão de Jardins Botânicos no Brasil, promovido pelo CAU/GO, em parceria com o Jardim Botânico Amália Hermano Teixeira e com a Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), uma equipe formada por especialistas ambientais realizou, na manhã de hoje, uma Visita Técnica ao Jardim Botânico de Goiânia. O evento, que continua amanhã com discussão no auditório da AMMA, a partir das 9h, conta com a participação do Presidente do Comitê Executivo da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, João Neves Toledo e da Diretora do Jardim Botânico de Recife (PE), Zenaide Nunes de Magalhães de Araújo, que apresentou a iniciativa bem-sucedida de sua gestão de levar a comunidade recifense a frequentar o espaço.

O grupo conheceu um pequeno trecho da área de um milhão de m², ciceroneados pelo Diretor do Jardim Botânico Amália Hermano Teixeira, Ary Soares, e por outros funcionários do órgão, quando foram apresentados o viveiro de plantas medicinais, espécies diferenciadas da flora goiana e discutidos diversos aspectos que possam estruturar o local, conservar as espécies ali existentes, criar condições para novas coleções de plantas. Estes foram alguns dos assuntos debatidos com João Toledo nesta entrevista feita em uma trilha do Jardim Botânico. Confira.

Quais os elementos que podem resultar numa efetiva estruturação do Jardim Botânico?

Uma coisa urgente é conhecer o acervo que se tem aqui, catalogar as espécies, fazer o percurso e começar a interpretar, porque, para o público leigo, e até mesmo para o público especialista, esta é uma imagem embaralhada. Precisamos de placas para identificar cada árvore. Temos que caracterizar tudo que o Jardim Botânico já tem. Tentar caracterizar cada instituição por aquilo que ela tem de diferente. Aqui já é um patrimônio. A população já tomou conta dele. Então, essa preocupação do que vai acontecer ao Jardim Botânico é positiva. Inclusive as forças políticas que são, ao que me parece, opostas, têm que convergir para um objetivo comum.

Essa questão de abrir à visitação, é complicada, porque aqui tem animal peçonhento, a estrutura não está com acessibilidade e não tem segurança. Talvez seja melhor concentrar os esforços ali naquela área que tem estrutura física pronta, criar banners e mostrar à população o que será o Jardim Botânico dentro de algum tempo, dizendo que as obras irão criar condições de receber as pessoas com dignidade. Cobrar ingresso é pior ainda, porque tem gestor que acha que a solução de receita é cobrar ingresso. Mas é pior porque o ingresso não paga e ainda podem acontecer acidentes. Se acontecer um acidente, a indenização é enorme. No Jardim Botânico de Brasília cobram 20 reais para tirar foto. É um absurdo, porque isso é controle excessivo.

 

Quais os caminhos para acessar recursos?

O primeiro passo é fortalecer a instituição Jardim Botânico. Existe uma estrutura montada, que pode até ser deficiente pela grandeza do Jardim Botânico, mas existe a estrutura, ligada a uma secretaria, que faz parte da Prefeitura. Então, a primeira coisa é que todas as pessoas envolvidas têm que falar a mesma língua. Em nível federal, existem algumas fonte recursos. Tem um programa nacional de apoio aos Jardins Botânicos, liderado pelo Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Biodiversidade. Só têm acesso a estes recursos os Jardins Botânicos devidamente registrados e enquadrados. Então, esse é um ponto positivo, já que o Jardim Botânico de Goiânia é um dos 22 registrados e enquadrados. Para obter esse recurso, precisa ter coleção, pesquisa e educação ambiental para conservação. Não é a maneira mais rápida, mais eficiente, mas é um canal. Outro canal é o Fundo Nacional de Meio Ambiente, que tem verba para parques ambientais urbanos, situação na qual o Jardim Botânico se enquadra. O Ministério de Ciência e Tecnologia também tem recurso, o Jardim Botânico pode se enquadrar na Política Nacional de Museus como um museu que vai trabalhar o valor multicultural das plantas. Existem também as leis de incentivos culturais, com projetos que têm viés cultural, mas que passa pela preservação do meio ambiente, a conservação da biodiversidade, porque hoje em dia o patrimônio ambiental tem um caráter muito mais amplo, encarado não só pelos recursos genéticos, mas também como valores imateriais. O IPHAN vem, cada vez mais, tombando paisagens. Rio de Janeiro, recentemente, foi elevado à categoria de Patrimônio Mundial pelo seu patrimônio ambiental, especialmente por causa de seu Jardim Botânico. Então, outros podem chegar a isso também.

Você comentou que a ocupação irregular é comum a todos os Jardins Botânicos.

Os problemas de todos os Jardins Botânicos são praticamente os mesmos: falta de recursos, de pessoal, de capacitação de pessoal, atividade fundiária, invasão… O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é, historicamente, alvo de invasão. Inclusive, atualmente está na mídia de forma negativa, por conta de uma invasão, não me lembro quantas famílias são, mas já tem uma decisão judicial, o Patrimônio da União já está fazendo a reintegração de posse. Mas dentro do PT, que é o partido que controla a administração atualmente, e que também está na gestão do Jardim Botânico, dentro do próprio partido tem deputados que defendem o interesse das pessoas que invadiram. E é um processo histórico, eram casas de funcionários do Jardim Botânico, cujas pessoas aposentaram, faleceram, enfim, passaram para outras pessoas e estão lá numa área que é tombada como Patrimônio Mundial, uma área interessante para o Jardim Botânico expandir suas coleções, mas é um problema sério na justiça porque as pessoas não saem. Mas tudo isso faz parte do processo.

Quais suas sugestões para a gestão do Jardim Botânico aqui em Goiânia?

As estratégias que eu vou sugerir para o Ary é de ter um planejamento geral, o entendimento de um território como um todo, recuperar todos os dados existentes sobre a área, não só os aspectos físico e ambientais, mas também legais, levantar a escritura dessa área, a situação dessas invasões e dessas remoções e, em paralelo, montar um projeto ali no Borboletário, de fácil gestão, para mostrar à comunidade o que ele é no momento e o que ele pode ser num futuro breve. Independente de outras ações que podem trazer recursos para o Jardim Botânico, tirar um pouco o foco dessa operação urbana consorciada, porque as coisas têm que acontecer independente disso. Se ela puder auxiliar o Jardim Botânico, ótimo. Não acredito que tenha como ela prejudicar, porque já existe um processo em andamento. Existe todo um ferramental para regular isso. Vai ter de passar pela Câmara, vai ter uma lei para regular isso e o debate está aí colocado, vai acontecer o que a sociedade quiser. É preciso entender o que vai ser benéfico para a cidade. A questão da cerca da qual eles tanto falam, um veio e colocou, outro veio e tirou, mas isto não é o principal, o essencial é arrumar a casa, conhecer o que tem aqui, para depois poder apresentar à comunidade.

E quanto à conotação nacional do Seminário?

Pois é, estamos tendo esse case de Goiânia, mas a discussão é nacional. Vamos tentar identificar uma ação mais prática do CAU como um todo, mesmo porque eu sou arquiteto e a Zenaide também é, e tem uma ingerência muito forte dos arquitetos nos jardins botânicos contemporâneos, projetos, paisagismo… Jardim Botânico, por excelência, é parque urbano, está inserido na discussão do planejamento da cidade. O Jardim Botânico de São Paulo, por exemplo, está encravado na malha urbana, lá tem um valor histórico também enorme, porque lá tem o Parque do Ipiranga, onde Dom Pedro I proclamou a Independência. Então, os Jardins Botânicos têm essa dimensão histórica, cultural e estão cercados pela cidade. 

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