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Live “Coronavírus: Saúde pública é urbanismo” – confira trechos selecionados

Na última quinta-feira, 14, o CAU/GO realizou em sua conta no Instagram uma live com o tema “Coronavírus: Saúde pública é urbanismo”. Conduzida pela conselheira Maria Ester de Souza, a live teve como convidado o epidemiologista Ion de Andrade.

Clique e assista a live na íntegra.

Graduado em medicina pela UFRN, Ion de Andrade é especialista em pediatria e possui doutorado em Ciências da Saúde. Pesquisador e professor, sua maior experiência é nas áreas pediátrica e epidemiológica, com ênfase em doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue e zika vírus. Atualmente participa do projeto BR Cidades, composto majoritariamente por arquitetos e urbanistas.

Veja abaixo os principais pontos abordados no bate-papo sobre saúde pública e urbanismo.

Experiência profissional
“Sou consultor do Comitê da Secretaria do Rio Grande do Norte para o enfrentamento da Covid-19. Trabalho numa comunidade pobre de Natal, e isso me abriu os olhos para a saúde pública e para o urbanismo, que são áreas muitos próximas. Fiz pediatria por conta da alta taxa de mortalidade infantil que existia no Nordeste naquela época, algo que era normalizado (até os anos 80) e hoje se tornou inaceitável. E hoje, fazendo parte do Comitê, vejo que o vírus surgiu nos setores médios e que agora está presente também nas periferias e no interior dos Estados e estes não possuem as mesmas ferramentas, acessos ou recursos materiais para o enfrentamento do vírus. É tido que em números quantitativos os idosos são os mais acometidos pelo coronavírus e o que vemos é uma normalização dessas mortes. É necessário pensar no ambiente em que essas pessoas vivem. Não se basear somente no ‘fiqueemcasa’, mas oferecer um ambiente que comporte isso. Não temos uma saúde pública focada nas necessidades que a pandemia exige, devemos proteger os idosos e vulneráveis e criar um ambiente de solidariedade, capaz de fazer a diferença.”

Saúde pública relacionada ao urbanismo
“Como supervisor do programa Mais Médicos, possuo contato com as Unidades Básicas de Saúde e com as comunidades. Acompanhamos as famílias e temos dados sobre a densidade, principalmente quando a família possui mais integrantes que cômodos. E apesar de não serem situações infrequentes, essa não é a situação da maioria das pessoas. As famílias se tornaram relativamente pequenas.Ocorreu um envelhecimento populacional e é costumeiro fazerem o que conhecemos como ‘puxadinho’, para aumentar os cômodos das casas. Nossa orientação é que, se for possível, o idoso fique em um cômodo somente dele e tenha seus próprios utensílios. Ao mesmo tempo, temos que pensar na saúde mental desse idoso. A família precisa estar presente, mesmo que à distância. A saúde pública está diretamente relacionada ao urbanismo. É preciso estar em contato com os agentes comunitários, pois são eles que têm acesso direto com a população em suas moradias e sabem quais são suas necessidades.”

Agente comunitário de saúde
“Ele tem um papel extraordinário. Ainda não temos como combater o Covid-19. Nossa maior ‘arma’ no momento é o isolamento social. Os agentes estão em contato direto com a população, são eles que oferecem a atenção primária. Por exemplo, em Paraisópolis eles conversam com os presidentes de rua e assim entendem melhor as necessidades dos moradores e tem papel importante na mobilização social.”

Pós-covid e SUS
“Essa pandemia não passará em branco, haverá implicações de médio e longo prazo. A história terá um antes e depois da pandemia. O coronavírus mostrou que todos podem ser acometidos pela doença. Diferente de antigamente – como por exemplo, a mortalidade infantil, que atingia mais os pobres – o coronavírus acomete a todos. Mesmo que possuam saneamento básico e mais infraestrutura, os bairros médios e nobres também estão acometidos e sofrendo com a disseminação. É importante melhorar a infraestrutura da cidade, para que todos possam ser mais saudáveis.  A pandemia mostrou que o Sistema Único de Saúde é essencial e que precisa receber investimentos, pois isso reflete diretamente na saúde da sociedade e das cidades. Creio que uma das coisas que pode acontecer é a consolidação da ideia de que o Brasil não pode existir sem o SUS e que ele se fortaleça, com ideias mais igualitárias.”

Confinamento de viajantes em aeroportos
“Não voltaremos no pós-pandemia para a mesma realidade anterior, provavelmente conviveremos como regras mais rígidas e isso pode se estender aos aeroportos. Será um mundo diferente. Por exemplo, na saúde precisaremos de leitos vazios, respiradores de retaguarda, serão criados meios para poder lidar com algo desse tipo futuramente. Há um privilégio das atividades lucrativas, e vemos a falta desse investimento em pesquisa, e pode ser algo que também mudará.”

Contribuição do urbanista
“A condição urbana e humana dos cidadãos deve ser analisada. As periferias poderão e deverão receber mais investimentos, tanto em infraestrutura quanto em saúde pública. Temos problemas políticos que devem ser resolvidos em curto prazo, mas devemos pensar também a longo prazo. A pandemia coloca um reset e essa situação mostrou a desigualdade e como as pessoas lidam com isso. Há necessidade de investimento na cultura e em políticas públicas para comunidades vulneráveis, como parques, praças, locais onde as famílias podem se reunir, alamedas, associações, salas de espetáculos, para que as comunidades não se degenerem para o tráfico ou mortalidade, para que a grande viagem não seja a da droga, e sim a da vida. Para que é que as pessoas sobrevivem, se não é pra vida? Temos que construir cidadania. Imediatamente após a pandemia acredito que não acontecerão tantas mudanças, mas a longo prazo será necessário. Precisa-se analisar como será se for produzida uma vacina, esse contato entre em doentes e saudáveis. São muitos pontos a serem analisados. Nossas periferias são cidades medievais e as cidades medievais na Europa hoje são locais agradáveis e bonitos. Então precisamos encher nossos olhos de beleza e ver nossas cidades medievais tropicais, que são reflexo da contemporaneidade.”

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