Artigo

Futuro já não é mais como era antes, artigo do conselheiro Paulo Renato

De tudo o que já foi dito sobre o coronavírus, acho que ainda não se mencionou a famosa e irônica frase de Paul Valéry: o futuro não é mais como costumava ser. Não mesmo. Tivemos a oportunidade de pegar tudo o que pensávamos ser o futuro, descartar e começar do zero.

Por exemplo, os gestores de empresas precisarão repensar o futuro do trabalho nos escritórios. E deverão aplicar neles as lições da quarentena. Mas que lições?

Primeiramente, sobre a gestão de pessoal. O que parecia um obstáculo mostrou-se uma oportunidade estimulante para o controle do trabalho em tempo real. Os softwares de monitoramento acompanham todos os processos simultaneamente: uma ferramenta agora ainda mais valiosa.

Outra lição: a disciplina. Como manter a produtividade no ambiente doméstico, onde tudo – pequenos afazeres e distrações – compromete o ritmo do trabalho? A resposta está em ter consciência de que, mesmo reclusos, devemos manter o horário comercial como parâmetro. É fundamental programar-se para isso.

Em terceiro está a relação com o cliente. O atendimento à distância, valendo-se da tecnologia, permite uma aproximação mais eficaz com quem está do outro lado da linha. Aliás, em qualquer parte da cidade, do país, do planeta, em horários predeterminados e em oportunidades programadas, é possível fazer esse contato.

Um ponto a destacar. Descobrimos, curiosamente, que o “desconforto” era nossa “zona de conforto”: nos acostumamos a perder horas no trânsito e só agora percebemos que, com os aplicativos de videoconferência, ganhamos mais tempo e as reuniões tornaram-se mais produtivas.

Porque, no fim das contas, a grande descoberta se dá nesse paradoxo: nos confinamos, mas ao mesmo tempo ampliamos o alcance do nosso trabalho. Nosso isolamento físico propiciou a expansão virtual de nossa atuação profissional e criativa. É fascinante. 

Por fim, de todas as lições que levaremos ao escritório do futuro, a mais importante vai ser de uma tocante simplicidade, lúdica até: o calor humano. Porque aí descobriremos que, enquanto a pandemia durou e nos mantivemos firmes na gestão do home office, lançando mão da tecnologia e da disciplina, estivemos o tempo todo cercados pelo afeto de nossas famílias. Algo tão próximo, tão reconfortante, e de que raras vezes nos dávamos conta. É esse afeto que nós, reprogramados por um presente tão conturbado, levaremos ao futuro. Um futuro muito, muito diferente do que pensávamos.

*Paulo Renato Alves, arquiteto e conselheiro do CAU/GO

 

Publicado originalmente na jornal O Popular, no dia 19/05/2020.

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