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CAU decide recusar registro profissional para alunos formados em cursos EaD

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo rejeitou em plenária nacional, na última sexta-feira, 29, a emissão de registro profissional para bacharéis em Arquitetura e Urbanismo formados em cursos na modalidade de Ensino à Distância (EaD). Desta forma, os egressos não poderão atuar na profissão.

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“Sem a imersão necessária à aprendizagem das matérias de Arquitetura e Urbanismo, não é possível formar profissionais qualificados e completos”, afirma o presidente do CAU/GO, Arnaldo Mascarenhas Braga. “É preciso vivenciar as diversas disciplinas que compõem o ensino de Arquitetura e Urbanismo, para que haja uma adequada apreensão de conteúdos como circulação, iluminação, infraestrutura sanitária e térmica, proteção contra intempéries e inúmeras outras”.

Considerou-se para a decisão do CAU que o campo da Arquitetura e Urbanismo está relacionado com a preservação da vida e o bem-estar das pessoas, a segurança e a integridade do seu patrimônio e a preservação do meio ambiente. Portanto, tem impactos diretos sobre a saúde do indivíduo e da coletividade.

Além disso, o Código de Ética e Disciplina do CAU determina que o arquiteto e urbanista deve deter um conjunto sistematizado de conhecimentos das artes, das ciências e das técnicas, assim como das teorias e práticas específicas presenciais da Arquitetura e Urbanismo, sendo impossível passar essa experiência da relação professor/aluno à distância. De acordo com o Conselho, um dos princípios que embasam a Arquitetura, o Urbanismo e o Paisagismo é a necessária condição geográfica, sem prejuízo das de caráter histórico e cultural.

No Brasil, nove cursos EaD já estão funcionando, com turmas ativas. Recentes normativas do Ministério da Educação (MEC) vêm ampliando o percentual do EaD na graduação universitária de diversas profissões, permitindo a oferta de cursos 100% à distância. No total, existem hoje 32 instituições de ensino que estão autorizadas pelo MEC a oferecer 84 mil vagas de Arquitetura e Urbanismo em mais de 400 polos espalhados pelo Brasil.

 

Aprimoramento
“Essa é uma preocupação de um grande grupo de profissões, como pude ver em outros conselhos profissionais”, afirmou o presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães. “Nossa decisão se baseia no fato de o Conselho ter como uma de suas finalidades pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da Arquitetura e Urbanismo em todo o território nacional. A proposta partiu da Comissão de Ensino e Formação, que tem como objetivo propor, apreciar e deliberar sobre atos normativos de ensino e formação referentes a ações que visem a melhoria das condições de oferta e da qualidade dos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, como previsto em nosso Regimento Interno”.

A conselheira Andrea Vilella, representante das Instituições de Ensino Superior e  coordenadora da Comissão de Ensino e Formação do CAU/BR, destacou que a sociedade brasileira deve entender que a formação à distância na Arquitetura e Urbanismo traz riscos tão graves quanto na área da Saúde. “Trata-se de segurança da vida, por isso outras profissões como dentistas, farmacêuticos e veterinários também criticam o ensino à distância”, afirmou.

 

Presente na Plenária, João Carlos Correia, presidente da ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo), elogiou a iniciativa em nome de sua entidade e das demais componentes do CEAU (Colegiado das Entidades de Arquitetura e Urbanismo), ao qual representava na ocasião.

Vários conselheiros declararam-se orgulhosos por participar da decisão, considerando-a um marco histórico para a Arquitetura e Urbanismo no Brasil.  Segundo eles, não se trata de abominar o valor das novas tecnologias,  mas o ensino à distância é a própria negação da essência da Arquitetura e Urbanismo, esferas ligadas à territorialidade e à paisagem, o que exige  aulas de ateliê diretamente vinculadas ao exercício do desenho conjunto com os professores, pois trata-se de um curso muito complexo que envolve técnica e criatividade, além de um senso crítico muito apurado.

Manifestação pública
Em 2017, o CAU/GO, assim como o CAU/BR, já havia manifestado publicamente sua preocupação e discordância com a improcedente e perigosa oferta de cursos de graduação na modalidade Educação à Distância (EAD). A Manifestação sobre EaD destaca que, entre 2012 e 2017, dobrou o número de cursos de Arquitetura e Urbanismo no país, sem que houvesse uma distribuição territorial planejada e que contemplasse a avaliação das respectivas e reais demandas de serviços profissionais. “Entendemos que os cursos de Arquitetura e Urbanismo na modalidade EAD, até agora cadastrados no MEC, não atendem à legislação vigente do setor educacional, por não contemplarem a relação professor/aluno própria dos ateliês de projeto e outras disciplinas; as experimentações laboratoriais e a vivência para a construção coletiva do conhecimento”, dizia o texto.

Desde 2014, o CAU/BR firmou acordo com o Ministério da Educação para se manifestar sobre os processos de autorização, reconhecimento e renovação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo no país – usando para isso suas ferramentas de geotecnologia, que mapeiam a atuação de arquitetos e urbanistas e permitem saber onde há necessidade de profissionais e também onde o mercado está saturado. A esmagadora maioria desses pareceres foi desfavorável à autorização dos cursos, mas eles foram reconhecidos pelo Ministério da Educação mesmo assim. Levantamento da Comissão de Ensino e Formação do CAU/BR mostra que os novos cursos estão sendo ofertados justamente em cidades com excesso de profissionais, enquanto em outras regiões do país precisam de mais cursos, profissionais e investimentos.

Leia aqui a manifestação do CAU/GO sobre cursos EaD.

Leia aqui a manifestação do CAU/BR sobre cursos EaD.

Também a ABEA e o IAB já se pronunciaram publicamente contra o ensino de Arquitetura e Urbanismo na modalidade EaD. Saiba mais:

Carta da ABEA contra o ensino de Arquitetura e Urbanismo a distância

Em carta ao MEC, IAB critica ensino a distância de Arquitetura e Urbanismo

Problemas nos cursos
No início deste ano, o CAU/RS começou a investigar denúncias de estudantes que alegam ter recebido conceito máximo em disciplinas práticas que sequer cursaram. Um aluno recebeu conceito “Excelente” em determinada disciplina que não cursava, sem ter acesso ao conteúdo das aulas e sem desenvolver as práticas necessárias para a avaliação. Outro estudante obteve o mesmo conceito para a prática de Desenho Arquitetônico, quando não houve práticas para subsidiar a avaliação.

Diante da situação, o CAU/RS encaminhou as denúncias ao Ministério da Educação e decidiu no dia 22 de março não conceder o registro profissional no conselho estadual a egressos de cursos de arquitetura e urbanismo ofertados na modalidade EAD. “Avaliamos que a modalidade EAD possui graves problemas de desempenho, avaliação e controle, gerando impacto negativo na qualidade do ensino de graduação”, afirma nota oficial divulgada pelo CAU/RS. Leia aqui.

 

Com informações do CAU/BR

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