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Artigo: o espaço e o arquiteto valorizados

A urgência dos problemas urbanos, somada ao fato de grande parte da humanidade habitar as cidades hoje em dia, demonstra a necessidade da maior atuação do arquiteto em todo o território nacional. Nesse contexto, urge também a valorização profissional. É do que trata o artigo do presidente do CAU/GO, Arnaldo Mascarenhas Braga, para a edição 21 da revista Phocus+.

Leia o texto abaixo:

O arquiteto em seu lugar

“Se os arquitetos não fizerem política, os políticos vão fazer arquitetura”

Arnaldo Mascarenhas Braga

O que é um lugar? Um lugar que possa ser chamado de seu, de meu, de nosso? Profissionais que criam e determinam funções no espaço possuem estreita intimidade com o tema. É o seu ofício do dia a dia, e o relacionamento com ele é tão estreito e corriqueiro, que não costuma gerar dúvidas.

Adotando uma definição genérica, chamamos de lugar onde as coisas estão ou são. Trata-se de uma determinação física, de local ou sítio. As demais considerações de destinação de uso, como nível de renda, programa e tantos outros dados, completam a adoção de um partido, para um projeto ser realizado naquele local. Tanto pode ser aquela rua, bairro, região ou cidade, como aquela cozinha, sala ou canteiro.

E o lugar do profissional que determina lugares, onde está? Em que local estão as oportunidades de trabalho, as garantias de emprego, os honorários?
Grande parte da humanidade elegeu a cidade para ter e para ser o seu abrigo. Seu espírito gregário desfruta dos núcleos urbanos, que oferecem convivência, conveniência, troca e deleite.

O lugar que o ser humano escolheu para ser e estar tornou-se complexo na sua organização e sua distribuição funcional e social. E, assim como as pessoas, as cidades são diferentes, têm suas personalidades, suas estimas, carências e também vaidades. Em nosso país, os agrupamentos foram brotando, aos trancos e barrancos, congregando e segregando, se alargando e alteando, nos fundamentos da tradição portuguesa de organicidade e da complacência de dirigentes e governantes.

Nesse contexto, os arquitetos e urbanistas veem seu objeto de trabalho utilizado como manobra de mercado, em áreas públicas aviltadas, num plano diretor corrompido. E corretor de imóvel, mais bem remunerado que o autor do projeto.

O que temos hoje é o testemunho da falência de nossas cidades. Neste 2015, a cidade de Salvador sofre com mais uma tragédia. Não foi uma fatalidade como o imprevisível tornado de Xanxerê, mas o colapso previsível do somatório de erros urbanos cometidos em uma área de risco. E ainda temos as enchentes no Acre, com as responsabilidades partilhadas entre a falência do planejamento e o aquecimento global. Tomar para si a responsabilidade dessa herança é algo muito pesado, mas a quem mais, se não aos arquitetos e urbanistas, deveriam ser atribuídos os desvirtuamentos que afogam as cidades brasileiras?

Querendo ou não, é esse o nosso lugar de trabalho. Se faz urgente e necessário o municiamento de competência e vontade para estancar o processo de aviltamento dos locais oferecidos à população. “Se os arquitetos não fizerem política, os políticos vão fazer arquitetura”, e fizeram, e continuarão fazendo, se não houver um trabalho de efetiva valorização profissional.

O que fazer para ocupar o lugar que nos é devido? Demos um adeus à nossa antiga morada, o CREA/CONFEA, depois de um relacionamento de 52 anos. Para os incrédulos que ainda acham que deveríamos ter ficado, que um conselho próprio não vai mudar nada, existe a oportunidade de se capacitar em uma das 306 atividades profissionais, dentre elas mais de 60 engenharias, que o nosso pretérito conselho abrigava na época do nosso desligamento. Nós éramos apenas mais uma. Tivemos, e ainda temos, um ótimo relacionamento. Nossas atividades se completam, estamos sob o mesmo manto do saber. Mas nosso novo lugar possui alguns diferenciais significativos, como conter apenas uma categoria. Hoje temos aproximadamente 110 mil profissionais registrados e em atividade em todo país.

Nossa prática exige formação especializada e regulamentada, em virtude da responsabilidade técnica e da questão social envolvidas em todo o processo. São ditames na formação do arquiteto urbanista, o único profissional capacitado e autorizado a fazer projetos de arquitetura e de urbanismo.

O lugar do Arquiteto Urbanista é o de criar lugares, espaços que abriguem funções, com todos os requisitos e qualidade do desenho e da técnica.
Dentro dessas atribuições, alinham-se outras tantas: arquitetura de interior, arquitetura paisagística, projetos complementares de instalações e estrutura, chegando até a edificação do imóvel, além do desenho urbano, planos urbanos, parcelamentos.

Um dos papéis do CAU é “pugnar” pelo aperfeiçoamento do exercício profissional, conforme a Lei 12.378/2010. O uso do verbo não é por acaso, já que traz o forte significado de “entrar em combate, lutar, pelejar”. Ou seja, ocupar o lugar que nos é devido. Hoje, é esse o nosso lugar. Com competência para criar espaços que sirvam e engrandeçam a sociedade, dentro das normas, das técnicas e da estética que garantirão a qualidade, a perenidade e a admiração.

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